Internacional
Conflito no Paraguai não diminuirá luta por direitos sociais, diz líder camponês
Publicado em 17/06/2012, 12:41
Adriano Muñoz, ativista do movimento pela reforma agrária no Paraguai, prevê endurecimento da luta dos movimentos sociais no país (Foto: OCN/Arquivo)
São Paulo – Os conflitos que vitimaram camponeses e soldados no noroeste paraguaio na última sexta-feira (15) são mais um capítulo da violência no campo criada pela expansão do agronegócio no país, patrocinado pelo governo e com apoio de grandes produtores brasileiros. A acusação é de Adriano Muñoz, integrante da Organización Campesina del Norte (OCN) e da Via Campesina Internacional. Segundo o ativista, novos confrontos são esperados. A OCN
é um movimento nascido em 1986 no Paraguai e criado para ser ferramenta política das reivindicações dos direitos dos camponeses do país.
Agricultores e policiais entraram em confronto durante uma reintegração de posse no distrito de Curuguaty, a cerca de 200 quilômetros da capital, Assuncão. O choque resultou em pelo menos 15 mortes e 80 feridos. Segundo o governo do país, cerca de 320 policiais foram destacados para a ação. Ainda no sábado (16), o presidente Fernando Lugo demitiu o ministro do Interior, Carlos Filizzola, substituindo-o imediatamente pelo ex-fiscal geral do Estado, Rubén Candia Amarilla – o quarto ministro da pasta do governo Lugo.
Confira a entrevista de Adriano Muñoz à Rede Brasil Atual.
Qual a sua avaliação sobre o conflito de terras ocorrido na última sexta-feira?
É lamentável e triste ver que em pleno século 21 ainda sejam assassinados camponeses que lutam por terra para produzir alimento em nosso território. O conflito que ocorreu não é um simples episódio de violência. O fato se segue a uma série de ações a que os fazendeiros e o governo – com seus organismos de segurança – têm submetido o nosso povo.
Existe uma lei natural que diz que para cada ação, existe uma reação. Esses camponeses vêm sofrendo há meses perseguições graves, tanto na esfera jurídica até ameaças por pistoleiros contratados pelos fazendeiros, os chamados “proprietários de terras”. Na realidade, as áreas que esses camponeses estavam ocupando são terras concedidas ilegalmente a latifundiários na época da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989), que distribuía benesses aos seus ‘compadres’ e parceiros.
O ocorrido é um fiel reflexo da crueldade e mesquinhez da classe dominante de nosso país que, a qualquer custo, com assassinatos e a destruição da natureza, defende seu interesse em ter muitas terras, não para a produção de alimentos, mas para acumular capital. Lastimosamente, o governo paraguaio exerce um papel fundamental para que se chegue e esse extremo.
O problema da distribuição das terras no Paraguai é grave porque uma alta porcentagem está nas mãos de empresários brasileiros que subornam os funcionários do estado e fazem o que querem com os recursos naturais e com as comunidades camponesas e indígenas que historicamente se assentam sobre ela.
Qual a sua opinião sobre a mudança de Carlos Filizzola, do Ministério do Interior. Agora, com Rubén Candia Amarilla, como será?
A mudança do ministro do Interior é uma manipulação que faz a ultra-direita. Rubén é um reacionário que tem estado por trás das perseguições políticas, que vêm sofrendo os dirigentes políticos da esquerda, quando este trabalhava como fiscal geral do Estado. Portanto, essa mudança de ministro não vai solucionar os problemas. Ao contrário, vai se tornar mais agudo porque os movimentos sociais decretaram mobilização permanente.
De maneira geral, como vê atualmente a situação de conflito no Paraguai?
Enquanto não se soluciona o problema da terra e não se implementa a reforma agrária no país, seguirão os conflitos e os camponeses, lamentavelmente, perdem muito, porque os fazendeiros – com seus pistoleiros – e o Estado – com seus três poderes – não deixam nenhuma possibilidade para os camponeses alcançarem seus direitos e bem-estar. Porém essa relação assimétrica tampouco é um limitador para que os camponeses sigam reivindicando os seus direitos. As organizações sociais, especialmente os movimentos por distribuição social da terra estão de pé, em luta e seguirão fazendo pressões.
Nesse último conflito foi lamentável o papel dos policiais em tudo isso porque a maioria dos soldados são filhos de camponeses. Porém, cumprindo ordens, arriscam as suas vidas e atentam contra a vida dos demais. Converteram-se em objetos repressivos a serviço do capital.
Como seguirão os movimentos sociais do país diante desse quadro de repressão às suas manifestações políticas?
O Paraguai, durante a ditadura e depois dela, tem passado por várias crises dessa natureza. Porém, apesar de tudo isso, o povo nunca permaneceu quieto, sempre tem se levantado para defender a sua dignidade e o território. Essa indignação que sentimos por esses fatos, apesar de tudo, é motivo maior para seguirmos lutando e estarmos mais do que nunca, unidos. O sangue derramado dos companheiros camponeses não será em vão. Dele germinará a resistência e a luta pela justiça social no Paraguai.
é um movimento nascido em 1986 no Paraguai e criado para ser ferramenta política das reivindicações dos direitos dos camponeses do país.
Agricultores e policiais entraram em confronto durante uma reintegração de posse no distrito de Curuguaty, a cerca de 200 quilômetros da capital, Assuncão. O choque resultou em pelo menos 15 mortes e 80 feridos. Segundo o governo do país, cerca de 320 policiais foram destacados para a ação. Ainda no sábado (16), o presidente Fernando Lugo demitiu o ministro do Interior, Carlos Filizzola, substituindo-o imediatamente pelo ex-fiscal geral do Estado, Rubén Candia Amarilla – o quarto ministro da pasta do governo Lugo.
Confira a entrevista de Adriano Muñoz à Rede Brasil Atual.
Qual a sua avaliação sobre o conflito de terras ocorrido na última sexta-feira?
É lamentável e triste ver que em pleno século 21 ainda sejam assassinados camponeses que lutam por terra para produzir alimento em nosso território. O conflito que ocorreu não é um simples episódio de violência. O fato se segue a uma série de ações a que os fazendeiros e o governo – com seus organismos de segurança – têm submetido o nosso povo.
Existe uma lei natural que diz que para cada ação, existe uma reação. Esses camponeses vêm sofrendo há meses perseguições graves, tanto na esfera jurídica até ameaças por pistoleiros contratados pelos fazendeiros, os chamados “proprietários de terras”. Na realidade, as áreas que esses camponeses estavam ocupando são terras concedidas ilegalmente a latifundiários na época da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989), que distribuía benesses aos seus ‘compadres’ e parceiros.
O ocorrido é um fiel reflexo da crueldade e mesquinhez da classe dominante de nosso país que, a qualquer custo, com assassinatos e a destruição da natureza, defende seu interesse em ter muitas terras, não para a produção de alimentos, mas para acumular capital. Lastimosamente, o governo paraguaio exerce um papel fundamental para que se chegue e esse extremo.
O problema da distribuição das terras no Paraguai é grave porque uma alta porcentagem está nas mãos de empresários brasileiros que subornam os funcionários do estado e fazem o que querem com os recursos naturais e com as comunidades camponesas e indígenas que historicamente se assentam sobre ela.
Qual a sua opinião sobre a mudança de Carlos Filizzola, do Ministério do Interior. Agora, com Rubén Candia Amarilla, como será?
A mudança do ministro do Interior é uma manipulação que faz a ultra-direita. Rubén é um reacionário que tem estado por trás das perseguições políticas, que vêm sofrendo os dirigentes políticos da esquerda, quando este trabalhava como fiscal geral do Estado. Portanto, essa mudança de ministro não vai solucionar os problemas. Ao contrário, vai se tornar mais agudo porque os movimentos sociais decretaram mobilização permanente.
De maneira geral, como vê atualmente a situação de conflito no Paraguai?
Enquanto não se soluciona o problema da terra e não se implementa a reforma agrária no país, seguirão os conflitos e os camponeses, lamentavelmente, perdem muito, porque os fazendeiros – com seus pistoleiros – e o Estado – com seus três poderes – não deixam nenhuma possibilidade para os camponeses alcançarem seus direitos e bem-estar. Porém essa relação assimétrica tampouco é um limitador para que os camponeses sigam reivindicando os seus direitos. As organizações sociais, especialmente os movimentos por distribuição social da terra estão de pé, em luta e seguirão fazendo pressões.
Nesse último conflito foi lamentável o papel dos policiais em tudo isso porque a maioria dos soldados são filhos de camponeses. Porém, cumprindo ordens, arriscam as suas vidas e atentam contra a vida dos demais. Converteram-se em objetos repressivos a serviço do capital.
Como seguirão os movimentos sociais do país diante desse quadro de repressão às suas manifestações políticas?
O Paraguai, durante a ditadura e depois dela, tem passado por várias crises dessa natureza. Porém, apesar de tudo isso, o povo nunca permaneceu quieto, sempre tem se levantado para defender a sua dignidade e o território. Essa indignação que sentimos por esses fatos, apesar de tudo, é motivo maior para seguirmos lutando e estarmos mais do que nunca, unidos. O sangue derramado dos companheiros camponeses não será em vão. Dele germinará a resistência e a luta pela justiça social no Paraguai.